As velhas recordações fazem parte da vida daqueles que caminham nas veredas da eternidade!
O padre José lembrava-se da meiga Celeste e de seu semblante infantil e das suas peraltices de menina própria de sua tenra idade... Como eram deliciosas essas lembranças...
Era um bom sacerdote, dedicado ao bem e à caridade onde quer que fosse e tivesse oportunidade de exercer a sua pratica em nome de Jesus.
Os anos, segundos no relógio da eternidade, passara tão rápido, que parecia que não percebera a sua incontrolável velocidade...
A criança de outros tempos tornou-se devota de Nossa Senhora e fazia parte das "Filhas de Maria", congregação que era mantida pelas fiéis moças e senhoras que, nas procissões faziam um belo cortejo homenageando a Mãe de Jesus e praticando a caridade com os necessitados, crianças, jovens e velhos que agradeciam e louvavam a Deus pelas benesses materiais e espirituais recebidas...
Celeste era um testemunho permanente de sacrifícios desde que se tornara uma católica de fé e crença inabalável, aceitando os dogmas e as diretrizes do Catolicismo, sem questionar nenhum ponto que por acaso lhe ensombrasse os dias de paz e alegria
Era um centro permanente de atenções e em suas palavras podiam-se vislumbrar as claridades do Evangelho e fonte de água viva aos menos felizes e sedentos de amor...
Suas maneiras, atitudes e ações eram um roteiro de paz aos espíritos desenganados e decepcionados das coisas desta vida, para tudo e para todos tinha uma palavra amiga e confortante...
Celeste nunca se preocupara consigo mesma... mas, sempre a vira ocupada com o seu semelhante, com os menos afortunados da vida material e espiritual: Era, em suma, uma missionária do amor de Cristo. Falava do amor de Deus, do otimismo e da felicidade que dizia, não era deste mundo e que nós deveríamos sacrificar nossos desejos e nossa ânsia de ter e trocar tudo pelo ser...
Assim, era Celeste, um anjo do Senhor na terra para consolar os aflitos...
( Padre José, caminhava prá lá e prá cá, no adro da igreja, ensimesmado em seus pensamentos, quando percebeu que linda criança, loira, de olhos azuis celeste, o fitava fixamente... era uma visão magnífica e uma beleza rara como uma pedra azul safira, que era encontrada pelas cercanias da pequena cidadezinha do interior de Minas... ficou magnetizado pela doce visão do paraíso, aproximou-se da guria e perguntou qual o seu nome e ela disse, candidamente:" - Celeste, padre! E o seu?"
Respondeu, meio encabulado: " - Padre José!" )
As reminiscências de Padre José, correram como águas de um riacho na voragem dos tempos, e a velhice, chamada de terceira idade, acordou o Pároco a novos caminhos...
A notícia que trazia as ondas sonoras do seu celular sobre sua aposentadoria, não o fez esquecer de seu passado e dos fatos fatídicos, que deixaram sua paróquia em estado de choque, e muito mais, a sua alma imortal... que não entendia os desígnios de Deus a quem Celeste tanto servira com todo desvelo, de todo seu coração e de todas as suas forças... Como esquecer da figura meiga de um anjo em passagem, tão rápida, pelo orbe terrestre e dos acontecimentos que lhe vinham à mente...
Queria, neste momento, beijar-lhe os pés e compreender a sua história:
- Porque?
- Porque?
- Porque?"
- Porque fora assassinada de maneira tão cruel, tão estúpida, tão fria?!
Pensou, até, em reencarnação... Será que existe?
A história de Celeste é um bálsamo confortador para aqueles que soluçam nas trevas da incompreensão e do desânimo, da energia que o amor procura despertar nas pessoas que só pensam na vida material e vive oprimido e exausto nos caminhos desta vida...
Padre José, entendera que a vida continua, que tudo é uma passagem e que a dor se torna apenas, uma miragem...
Celeste, hoje, vive numa das casas do Senhor, e a assassina que a matou está reservado o vales das trevas onde há o pranto e o ranger dentes... o Hades, será a sua morada...
O Pároco compreendeu, pela primeira vez, que o bem não tem preço, e quando não entendemos os desígnios de Deus é chegada a hora de aproveitar a chance de fazer o bem e perdoar os malfeitores sem esperar nenhuma recompensa, porque, esta, vem de Deus!
Padre José, caminhou para sua igreja para se despedir e começar uma nova vida seguindo os exemplos de Celeste que amava, incondicionalmente, a todos, mergulhada nas palavras e exemplos de Mestre Jesus... E sempre a ouvira dizer:
" - A dor, a tristeza, o sofrimento e o trabalho, ofereço a Jesus, que por nós morreu numa cruz para nos mostrar que tudo é possível àquele que crê e honra o Seu nome... A terra é um lugar de expiação e provas e um dia será de regeneração..."
Padre José, desceu as escadas, pensativo, mas, com uma certeza em sua mente: Iria se dedicar aos seus semelhantes com mais afinco escrevendo livros sobre as possibilidades de um mundo novo através da Boa Nova de Jesus Cristo...
Pensou alto e falou, já dentro do ônibus, que o levaria à um lugar particular, com a Codificação de Allan Kardec a tiracolo, alguns pertences pessoais e o terço que sua mãe lhe dera para fazer suas orações, desde que fora para o Seminário:
As velhas recordações pareciam criar vida...
Percebeu uma menina de olhos azuis e cabelos cor de ouro correndo ao seu encontro, de bracinhos abertos e sorrindo, encantadoramente...
Padre José pensou: " É, os espíritos existem e a vida após a morte, também, e suas lágrimas molharam suas vestes franciscanas, que vestira antes de sair de sua igreja... Sempre fora devoto de São Francisco de Assis!