Era uma dessas noites geladas, com aquele ventinho assoviando nas nossas orelhas, e uma chuvinha fina caindo, devagarinho, sobre as nossas cabeças, quando, de repente, ao passar por uma ponte de concreto armado, percebi, embaixo daquelas estruturas frias, cinza e sombrias, pessoas vivendo sob o seu teto, deitadas e cobertas com cobertores usados e esfarrapados, e por baixo de seus corpos, esquálidos, pedaços de caixas de papelão, com que faziam a sua cama, para acomodarem-se, uns aos outros, na tentativa de livrarem-se do frio, que fustigava os incautos, mendigos e trânsfugas da sociedade, impiedosa, e maldosa, ( que condena antes de julgar, aqueles que são objetos de acusações levianas, inverdades e maldades gratuitas, espalhadas no recesso das mais nobres famílias, de caráter e atitudes impolutas, mas, que são grandes: FDP... )
Olhei e olhei, uma, duas, três vezes.. e não aguentei, fui até os ditos, malditos, ( que ninguém olha e se olha, não vê... Não quer olhar, não quer se comprometer, pois, é melhor ficar na zona de conforto, longe dessa gentalha, preguiçosa, que não trabalha... E pensam, assim: Que morram esses infelizes, sempre será um a menos se morrer, ajudar para que?...) e perguntei, para um dos que colocaram a cabeça para fora, do amontoado de papéis, papelão, jornais e engradados de frutas, presos com cordas molhadas para segurar tudo, pelo arremesso do vento, que enregelava até o pensamento... " Olá, como estão vocês, aí neste frio danado? Posso ser útil em alguma coisa? Se eu puder o farei...!"
" Olha, meu senhor - respondeu-me, com os olhos arregalados e interrogativos - só o fato de falar com agente, de dar atenção para nós, que somos tão miseráveis, mas, não por nossa culpa e sim, pelas contingencias da vida... pois, por aqui, somos em oito pessoas, de lugares diferentes, e nos abrigamos, uns com os outros, debaixo do mesmo teto de concreto, para suportar as agruras da fome, sede e abstinência das drogas, quando elas nos faltam... muitos de nós, por aí a fora, somos alcoólatras e temos, até, outros vícios, que o senhor nem imagina, tudo isso, fruto do descaso, desprezo e dos nossos lares destruídos pelos mais diferentes motivos, entre eles, o alcoolismo, as brigas contumazes, traição, essa é de doer, nem dá mais vontade de viver... porém, o que mais dói, dói mesmo, lá no fundinho da alma, é o desdém e o abandono da família, e de um filho ou uma filha, que a gente cria com todo amor e carinho, passa necessidades, deixa de comer um pão, para não faltar na mesa de refeição, da família, antes unida, hoje, perdida... E a gente vai vivendo, como Deus quiser, torcendo para que Ele nos leve o mais breve possível... muitos companheiros, de copo e de cruz, já tiraram a própria vida, e o nosso grupinho, continua por aqui, teimoso como um burro velho, empacado na coragem de fugir da lida...
Pois é, meu senhor, é isso aí, muito obrigado por dirigir a palavra para nós e nos ouvir as lamentações... é difícil alguém parar e perguntar alguma coisa, todo mundo tem medo da gente, mas, nós somos inofensivos... Só quando bate a abstinência, é que, às vezes, ficamos meio agressivos... sabe, meu senhor, a gente tem amor pelos nossos semelhantes, apesar de tudo que sofremos, nunca, por aqui, se ouviu dizer que alguém tirou a vida de alguém... é só a nossa aparência, que afasta as pessoas, até de nos dar uma esmola, um pedaço de pão ou um copo de água... estamos conformados com essa situação, ate quando Deus, assim, o permitir...
Pois é, meu senhor, é isso aí, muito obrigado por dirigir a palavra para nós e nos ouvir as lamentações... é difícil alguém parar e perguntar alguma coisa, todo mundo tem medo da gente, mas, nós somos inofensivos... Só quando bate a abstinência, é que, às vezes, ficamos meio agressivos... sabe, meu senhor, a gente tem amor pelos nossos semelhantes, apesar de tudo que sofremos, nunca, por aqui, se ouviu dizer que alguém tirou a vida de alguém... é só a nossa aparência, que afasta as pessoas, até de nos dar uma esmola, um pedaço de pão ou um copo de água... estamos conformados com essa situação, ate quando Deus, assim, o permitir...
Só uma perguntinha, sem ofender ao cavalheiro: Por acaso, tem um dinheirinho aí, para agente dividir uma pinguinha, para afugentar o frio que está de lascar? Não tem importância, se não tiver..."
Verifiquei meus bolsos e minha carteira, e tirei algum dinheiro, que dei, imediatamente, aos moradores de rua, quer dizer, moradores dos abrigos dos viadutos, espalhados pela São Paulo, desvairada e sem moradas, onde sofrem os moradores das madrugadas, pois, de dia, ficam jogados pelas calçadas...
É o moto continuo da falta de fraternidade, igualdade, liberdade e tolerância, onde estão, em cárceres privados, também, as nossas virtudes pela nossa total indiferença. E os outros, que se danem...
Pois, é: Primeiro eu , segundo eu, terceiro eu, e assim, por diante... É o nosso egoismo falando mais alto, impassíveis diante da dor e do infortúnio do nosso semelhante, do nosso irmão...
Um dia, iremos ter um mundo melhor, mais digno, sem as dores superlativas da alma humana, pela indiferença dos familiares e da sociedade, voltadas para si mesma...
A verdadeira caridade não tem fronteiras...
A verdadeira caridade não tem fronteiras...
Porém, até lá, haverá prantos e ranger de dentes, por sermos, assim... tão indiferentes!
Itanhaém, 20 de set de 2015
José Aloísio Jardim ( Sêo Jardim )
Itanhaém, 20 de set de 2015
José Aloísio Jardim ( Sêo Jardim )
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